Escuto uma briga, Pablo, Manu e Juan discutem, alardeia pela sala encardida certa desarmonia. O ar se torna brusco e rudimentar. Ignoro mas meu estar canta a preocupação. Após gritos e ganidos, saio do quarto, do “buraco”, dou bom dia sem bom, e toco pro estúdio, lá, clima, provavelmente pior que aqui não há. A realidade fora das cobertas rompe o meu medo e aniquila meu eterno procrastinar. No estúdio, ninguém, paz absoluta e portas abertas pro meu livre criar. O ensaio seqüente me grita o desancorar. Aqui posso ser fiel a minha própria filosofia do intuir, enfrento a euforia exacerbada e sem pensar em qualquer coerência vou direto aos focos de luz trabalhar brilho, quantidade, contrataste e difusão dos objetos a serem clicados. Ventilador do passado e vaso de flor ao lado. Com iluminação frontal baixa alcanço o universo onírico presente em meu inconsciente. Duas horas depois resulto por satisfeito. A fome bate e é hora de voltar a casa transmutada em antro agonizante. Juan, não está! Manu e Pablo sim! Indiferente! Hoje faz sol e o horário de verão pede um passeio pelas ruas de “Lavapiés”, Diana me liga e o plano é adentrar a noite de verão se refestelando com “copas e tapas”. Em pouco menos de meia hora Diana chega ao meu encontro e com sua verve falante me lança as ruas de Madrid. Na calçada bar a bar vamos distanciando-nos da atmosfera amarga do porvir. A noite é longa. Diana é uma apreciadora do andar sem rumo. Ziguezagueando os chineses de cerveja quente pouco a pouco encaramos o fim do respirar aliviado. A conversa foi boa, passou rápido e Diana entornou suas essenciais garrafas de vinho. É chegada a hora da volta. Diana fica por Atocha, seu QG, eu caminho adiante, á volta ao buraco não me agrada, mas é onde vivo, ou pior, sobrevivo. Chego, encaro a porta, a chave. Adentro a gruta. Com meia fome resolvo fazer uma torrada com manteiga, fecho a porta da cozinha, mas logo em seguida sou interrompido por Manu que de toalha enrolada ao corpo me caga na cara seu banal recado: - Estamos com um cliente no quarto e Juan não sabe. Pensa que é nosso amigo. – Em seguida lança uma risadinha menina. Absorto, revelo o esgotamento do suportável, viro a cara e continuo com a torrada, trabalho nela tentando entender o que existe na cabeça desses caras. Merda? No que me perco no devaneio de como poderia acabar com aquilo, Juan adentra a cozinha pedindo o silêncio impossível de se ter numa casa onde ratos se escondem do real, entre paredes tão gastas quanto suas próprias cuecas. A coisa começa a esquentar, Juan me encara menina brava. O que resta do meu “deixa disso” ameaça escapar. Um pouco escapa. Rispidamente respondo a Juan que eu pago o aluguel para usar a cozinha a hora que me for necessário. Juan tentando não perder o ar de quem manda, me diz: - Sim coma, pode comer, mas faça menos barulho. Tentei imaginar o barulho da faca na torrada. E então Manu me confessa que Juan está bravo por causa do tal novo amigo de Ignácio e Manu. Engulo seco o resto da torrada e saio da cozinha em absoluto silêncio. Não há nada mais para ser dito nem perguntado. Deitado em meu quarto puxo o sono no aguardo do “amanhã é outro dia”. Não é! Pela manhã sou acordado com Ignácio espancando minha porta. Antes que ele pudesse completar que Manu o havia abandonado e fugido com o novo amigo-cliente, abro a porta e vejo o argentino afogado em lágrimas. Gostaria que não tivesse sido assim, gostaria de ter conseguido agüentar mais um pouco, mas o futuro do pretérito não existe. O meu “deixa disso” se vai por completo e quando vejo, estou sobre Ignácio batendo sua cabeça contra o chão, tentando enfiar nela um pouco de bom senso.
martes, 20 de octubre de 2009
Oculto Dissonante - 3
Escuto uma briga, Pablo, Manu e Juan discutem, alardeia pela sala encardida certa desarmonia. O ar se torna brusco e rudimentar. Ignoro mas meu estar canta a preocupação. Após gritos e ganidos, saio do quarto, do “buraco”, dou bom dia sem bom, e toco pro estúdio, lá, clima, provavelmente pior que aqui não há. A realidade fora das cobertas rompe o meu medo e aniquila meu eterno procrastinar. No estúdio, ninguém, paz absoluta e portas abertas pro meu livre criar. O ensaio seqüente me grita o desancorar. Aqui posso ser fiel a minha própria filosofia do intuir, enfrento a euforia exacerbada e sem pensar em qualquer coerência vou direto aos focos de luz trabalhar brilho, quantidade, contrataste e difusão dos objetos a serem clicados. Ventilador do passado e vaso de flor ao lado. Com iluminação frontal baixa alcanço o universo onírico presente em meu inconsciente. Duas horas depois resulto por satisfeito. A fome bate e é hora de voltar a casa transmutada em antro agonizante. Juan, não está! Manu e Pablo sim! Indiferente! Hoje faz sol e o horário de verão pede um passeio pelas ruas de “Lavapiés”, Diana me liga e o plano é adentrar a noite de verão se refestelando com “copas e tapas”. Em pouco menos de meia hora Diana chega ao meu encontro e com sua verve falante me lança as ruas de Madrid. Na calçada bar a bar vamos distanciando-nos da atmosfera amarga do porvir. A noite é longa. Diana é uma apreciadora do andar sem rumo. Ziguezagueando os chineses de cerveja quente pouco a pouco encaramos o fim do respirar aliviado. A conversa foi boa, passou rápido e Diana entornou suas essenciais garrafas de vinho. É chegada a hora da volta. Diana fica por Atocha, seu QG, eu caminho adiante, á volta ao buraco não me agrada, mas é onde vivo, ou pior, sobrevivo. Chego, encaro a porta, a chave. Adentro a gruta. Com meia fome resolvo fazer uma torrada com manteiga, fecho a porta da cozinha, mas logo em seguida sou interrompido por Manu que de toalha enrolada ao corpo me caga na cara seu banal recado: - Estamos com um cliente no quarto e Juan não sabe. Pensa que é nosso amigo. – Em seguida lança uma risadinha menina. Absorto, revelo o esgotamento do suportável, viro a cara e continuo com a torrada, trabalho nela tentando entender o que existe na cabeça desses caras. Merda? No que me perco no devaneio de como poderia acabar com aquilo, Juan adentra a cozinha pedindo o silêncio impossível de se ter numa casa onde ratos se escondem do real, entre paredes tão gastas quanto suas próprias cuecas. A coisa começa a esquentar, Juan me encara menina brava. O que resta do meu “deixa disso” ameaça escapar. Um pouco escapa. Rispidamente respondo a Juan que eu pago o aluguel para usar a cozinha a hora que me for necessário. Juan tentando não perder o ar de quem manda, me diz: - Sim coma, pode comer, mas faça menos barulho. Tentei imaginar o barulho da faca na torrada. E então Manu me confessa que Juan está bravo por causa do tal novo amigo de Ignácio e Manu. Engulo seco o resto da torrada e saio da cozinha em absoluto silêncio. Não há nada mais para ser dito nem perguntado. Deitado em meu quarto puxo o sono no aguardo do “amanhã é outro dia”. Não é! Pela manhã sou acordado com Ignácio espancando minha porta. Antes que ele pudesse completar que Manu o havia abandonado e fugido com o novo amigo-cliente, abro a porta e vejo o argentino afogado em lágrimas. Gostaria que não tivesse sido assim, gostaria de ter conseguido agüentar mais um pouco, mas o futuro do pretérito não existe. O meu “deixa disso” se vai por completo e quando vejo, estou sobre Ignácio batendo sua cabeça contra o chão, tentando enfiar nela um pouco de bom senso.
jueves, 4 de junio de 2009
Oculto Dissonante 2
Dez horas da noite e o céu travestido de “fim de tarde” me confunde a noção de dia, noite, madrugada, manhã e tarde. O café da manhã vira jejum, almoço janta e janta larica. A “ciesta” castiga a minha a ordem da desordem e transforma minha completa inabilidade com o tempo em paradigma do fracasso. Trens se despendem ao meu chegar, ônibus tardam ao meu esperar, metrô me mete embaixo da terra feito rato no buraco. Hora e hora e meia para alcançar, pra chegar e somente estar. Encarnecido me desdobro na indolência do meu cronometro afim de conseguir chegar em casa antes do escurecer, não é difícil, ainda são oito da noite. Chego em casa, uma hora depois, o estúdio é longe e a casa distante. O roteiro é o mesmo, enfio a chave amarela na fechadura da porta de vidro, adentro o hall, subo a rampa e mais uma vez chave amarela na segunda porta, o bairro não é acolhedor tampouco seguro. Já a frente do elevador modelo oitenta e dois, aperto o botão e digo “Hola” a senhora que me encara como imigrante, visita sem convite, bicão em festa prive. Ignoro. Chave vermelha na fechadura de casa e a música popular merda espanhola expelida do rádio de Juan me faz lembrar que eu não queria voltar para cá. A fumaça de tabaco empesteia o ar e vejo ao fundo Pablo com garrafa de run e Manu assistindo a mais pura bosta da televisão espanhola, aliás, me indago absorto no caos dessa epifânia barata, que caralho esses dois estão querendo? Esquece. Eles não sabem, o ar se torna cada vez mais fétido e podre e eles definham tão rápido como cadáveres ao céu de urubus, a degradação exala dos olhos, bocas, ouvidos, narinas, pele, poros e cús. Logo sou convidado a me sentar e tomar uma “copa”, claro recuso e me dirijo ao quarto, “meu buraco”. Deito a cabeça sobre o travesseiro, ao meu lado vejo revistas de teatro, canto desarrumado e a iminência da minha agressiva consciência me violentar indagando aonde vim parar e o que exatamente vim fazer aqui, respondo de pronto quase sem pensar: Me livrar de mim mesmo!!!Que bom! Sinal que apesar da insana vontade do novo, eu continuo comigo. Porque sei que quando estive só foi triste e inevitável, mas o só sem ao menos eu comigo foi quase triste fim, sem fim. Não obstante vivo o novo e me jogo ao desconhecido, afinal de contas, vim buscar também a hibridez que me faltava. Saio do quarto, um banho pode revigorar a pele encardida do bruto dia. Sim, revigora e me mantém de pé pra buscar na cozinha abafada e escura, o meu “bocadillo” de “chorizo” e copo d’água. Na sala Pablo me mira e eu penso, me erra! Mais uma vez vem demente vomitar merda e sangue, aqui, bem aqui no meu nariz. Manu, se mantém concentrado na confecção do único bamba leão da noite. Com o sorriso de canto Pablo esquiva a cabeça para o lado e me fala, sem dó: Comemos o marido do Juan! Eu exclamo ancorado na falta do crível que poderia ser tal situação. Que? E ele me conta que pela manhã, o marido de Juan, Santiago, um velho senhor de cinqüenta e tantos anos, estatura pequena beirando um metro e sessenta e pouco, fanático por tênis e dono de um grande castelo em Cáceres, colocou os dois pra trabalharem, a festa foi além e eu em meu buraco sem saber e nem escutar nada, deve ser o sono enfrentado pelo dia. Sabendo que nada disso me interessa, resgato meu único e possível sorriso enterrado no meu intestino para com uma única frase terminar o monólogo de Pablo. Cara, eu estou com pressa, não me leva a mal, mas tenho que ir nessa! Sim, a hora agora é de respirar, cortar o ar, descer a rampa e encontrar o meu retiro, ali no próprio “Retiro”. Juan chega em casa e me pergunta o que está rolando. Então eu respondo que alguma coisa sempre está rolando, pego meu skate, e coloco os fones de ouvido, ao melhor cortar o ar e ouvir em alto e bom som o reggae de Alborosie............Zin Blin Don Don! Zin Blin Don Don!
jueves, 14 de mayo de 2009
Y Ahora?
llega el verano
sábado, 9 de mayo de 2009
Oculto Dissonante
sábado, 25 de abril de 2009
Ecuación
viernes, 17 de abril de 2009
Que Pasó?
Travessia
lunes, 6 de abril de 2009
Con ella
y lejos de ti
estoy aquí
siento tu perfume
vivo tu sonrisa
a cada segundo
en cada lugar
en cada rincón
de mi corazón
Y a cada segundo
yo quiero, y pido
nuestro mundo
no olvidar
que nuestro momento
ha de llegar
un paso, tras otro
y juntos muy pronto
lado a lado vamos caminar
un paso, tras otro
contigo me voy a quedar
Marcelo Selingardi
jueves, 2 de abril de 2009
Alma
martes, 31 de marzo de 2009
Colores
lunes, 23 de marzo de 2009
lunes, 16 de marzo de 2009
Guernica
El poder de comunicación de "Guernica" supera todo en temática de texto y palabras.
Su imagen golpea la alma y asciende el porque de la arte.
Marcelo Selingardi
Por la calle
Camino por la calle cerca de mi casa. Circ Cric, Tortell Poltrona, Payasos Sin Fronteras.