jueves, 14 de mayo de 2009

Y Ahora?


llega el verano
y sin miedo hay
que dejar
profundo sentir
perpetuar
las heridas
cerrar
y un nuevo ciclo
empezar.
y ahora?
millones de fotos
sacar
y el espirito
cambiar
con las palabras
jugar
y un nuevo sentido
encontrar.
y ahora?
el sol se pone
a brillar
y el mundo el color
va ganar
la brisa suave
va llegar
y con mis palabras
voy saludar.

sábado, 9 de mayo de 2009

Oculto Dissonante


Ao praticamente ser expulso do decadente locutório paquistanês, meu refúgio com o mundo externo, retorno à gaiola, subo as escadas, direto ao segundo andar, passo pelo fino corredor desviando da "neveira" improvisada frente ao banheiro e sento no sofá como procurando ocupar o tempo, até o sono perdido chegar. Um mês atrás era só eu, a antiga Tele 29 polegadas, com seu vasto repertório de bobeiras espanholas, e a cadeira maltratada, que recebia meu corpo como saco de lixo, sentia-me só, mas ao melhor, tinha a paz que só se consegue estando sozinho, sem mais ninguém, eu comigo mesmo. Agora não é mais assim, vivo na Gaiola, The Birdcage. O Paragua Juan, ora feliz, ora enfadado, com suaves alterações no humor devido ao uso constante da melhor erva de Madrid conseguida fácil fácil com senagalênses de Lavapiés, chegou há um mês e com ele, sua cadela, uma cocker de dois anos que aos primeiros dias dava sinal de aparente tranquilidade. Só tipo.
Não vejo mal nenhum em viver com caras que tem outra opção sexual que não a minha. A casa é igual a qualquer outra, tem seu equilíbrio, em teoria os maricas seriam limpos e organizados, cheios de frescuragem, mas não, fatídicamente não é assim, alguns até são limpos, mas outros eu não sei como conseguem tal avanço ao desagrado olfactivo e visual. Enfim não há do que reclamar, aqui não é o lar. Prossigo sentado sobre o sofá improvisado, esperando o sono me brindar. Juan não está, mas o casal, Manu, espanhol, vinte e cinco anos, pós recuperado de dependência química e Ignácio, argentino, trinta e cinco anos, ex-cabeleireiro, que perdeu tudo na vida e mais um pouco estão entre a sala e a cozinha.
Manu resolve sair a ver se consegue uma baguete em um chino aberto há uma da manhã. O argentino senta na outra poltrona, e eu sinto que ele com seu ar de rei, mesmo que na merda, quer mais uma vez destrinchar sua desgraçada vida sobre meus pobres ouvidos. Triste engano, mais que isso, ele, sem pudor algum me faz a revelação que só posso acreditar depois depois de um download obsoleto e demorado em minha inocente cabeça, que sempre protegida e longe das sombras, não podia imaginar quão perto do outro lado podemos estar. Tudo isso aqui e mais um pouco além do que posso imaginar, está me parecendo muito estranho, quarta-feira, da sacada de casa vejo como pouco, dez policiais e cinco viaturas tentando inutilmente retirar uma traficante ou dependente de crack de dentro de um antigo nissan estacionado do outro lado da rua. Três horas depois e ela sai, mas claro, em uma ambulância, fingindo estar mal como que com o diabo no corpo. Lamentável e espantoso.
Espantado e fingindo me parecer normal escuto o Argentino, que de tão perdido em seu labirinto necessita contar a alguém suas sombras e tempestades, eu sou a única solução para que ele sinta menos dor nem que por alguns minutos.
Como já estava desconfiado de como o casal se mantinha, recebi a declaração como constatação. De que jeito um casal poderia se manter, pagar aluguel, comprar pão e refrigerante, saindo todas as noites, e passando o dia em casa? Depois de me contar que faziam programas para se manter e que optou por isso porque estava cansado de ser usado sexualmente, encerrei meu honorário de bondade, disse que a mim “me dava igual” e que eu não tinha nada que ver com isso, fui ao banheiro, escovei os dentes e tranquei a porta do meu quarto me colocando embaixo das cobertas a fim de conseguir eliminar de mim o preconceito e o medo do quão violento pode ser viver. A “bad” instalada me tarda o sono...melhor pensar no que ela chama de blá blá blá.